quinta-feira, novembro 30, 2006

Reflexo condicionado

Vital Moreira gasta duas linhas e meia da sua tinta na Causa Nossa a contestar a falta de consideração do PCP pela "autonomia" e pela "situação pessoal" dos seus deputados e o dobro (!) desse espaço a desancar Luísa Mesquita, chamando-lhe "super-ortodoxa", sem sequer se dignar mencioná-la pelo nome, repetindo a deselegância cometida em Agosto, quando criticou o ex-presidente da Câmara de Setúbal, Carlos Sousa. Numa espécie de reflexo condicionado que parece provir dos tempos em que, enquanto deputado comunista na Assembleia Constituinte, chamava aos adversários políticos "demente" e outros mimos em boa hora recordados aqui, o constitucionalista vai ainda mais longe, destilando uma insinuação inqualificável contra Luísa Mesquita: "São Bento vale bem uma infidelidade partidária!"
Tratar-se-á de um "ajuste de contas", explica o Daniel Oliveira. Talvez só isso justifique tanto primarismo, na forma e no conteúdo. Nem os autocratas de serviço na Soeiro Pereira Gomes foram tão longe.

Há coisas na vida que nunca vou entender

Há certas coisas na vida que nunca vou conseguir entender. Uma delas é a morte de quem está no auge da vida. A Zé partiu para outro mundo, mas ainda tinha muito que fazer neste.
Conhecia mal a Zé, embora estivéssemos a trabalhar na mesma secção. Era uma miúda de sorriso doce, de facto reservada, de um humor inteligente. Admirava-lhe a postura, a actuação recta, o jeito inquestionável para a reportagem. Vai deixar saudades...

A praga cor-de-rosa

Confesso que já me enjoa a praga das gravatinhas cor-de-rosa. Marques Mendes aparece na televisão – e ei-lo de gravata monocolor, cor-de-rosa berrante, certamente julgando que assim está mais na moda (o histórico cor-de-laranja já terá sido definitivamente enterrado no PSD?). No congresso do PS, reparo em socialistas do Norte, como José Lello e Narciso Miranda, e lá os vejo também com o apêndice cor-de-rosa ao pescoço. O comentador Rui Santos, jornalista da grande área futebolística, surge com frequência na SIC Notícias com uma gravata da mesma cor. E nem Dias Ferreira, no programa desportivo O Dia Seguinte, ou o habitualmente elegante Nuno Rogeiro, comentador internacional do mesmo canal, escapam a esta praga: ambos apareceram na pantalha já convertidos ao inevitável cor-de-rosa. Qualquer dia começo até a sentir saudades das nauseantes gravatinhas azul-bebé...

Socialistas "muy machos"

A mudança de hábitos políticos introduzida há dois anos por Zapatero em Espanha começou a perder gás: o novo Executivo da Catalunha, que terça-feira tomou posse, tem apenas quatro mulheres em 14 postos governamentais, o que fez até torcer o nariz ao insuspeitíssimo El País. Lá se foi a apregoada "paridade" sexual, sob a égide do socialista catalão José Montilla. Em Barcelona, pelos vistos, quien manda son los machos...

Os dotôres

Como bons latinos que somos, nós os portugueses adoramos os tratamentos formais e valorizamos incrivelmente um bom “estatuto”, de preferência bem “cristalizado”. Receio que o fenómeno não tenha tanto a ver com vaidades pessoais, mas antes com o anseio secreto de mais uma fórmula de “providência social”, e de amortecedor das agruras da competição profissional. Pouco dados a grandes liberalidades, parece-me que genericamente somos uma gente insegura.
Crescendo no meu mundo bem português, sempre vivi rodeado de doutores e doutoras, a começar com os “Stôres” do ensino preparatório, ao “Doutor” que vinha à nossa casa para receitar um qualquer antibiótico… para mais tarde aprender que também havia “Professores Doutores” (o que não significava que leccionassem obrigatoriamente qualquer cadeira) e depois descobrir que havia um título, “Bacharel”, que não tinha grande sucesso em Portugal.
Assim cresci e assimilei as variadas e distintas formas de tratamento social. Às tantas, tive a sensação que o "dotôr" funcionava como mais um nome próprio, necessário para alguns figurantes da minha vida, quase sempre com um estatuto hierarquicamente superior ao meu.
Agora os tempos mudaram. Desde há alguns anos, com as universidades e escolas superiores a debitarem dezenas de milhares de "dotôres" por ano, e porque não podemos ser todos "dotôres" e assim estragar a panelinha, o título passou a ser atribuído consoante o lugar de cada um na hierarquia. A secretária é licenciada em línguas e literaturas modernas, mas é simplesmente da D. Carolina que se trata. Já o chefe, que frequentou meia dúzia de cadeiras de uma obscura licenciatura, é o "Sôdotôr", literalmente “sem saber ler nem escrever”. Esta foi a lógica que se implantou. O Engenheiro, se é o "manda-chuva", assim é tratado. O outro, o assistente com o mesmo curso da mesma universidade, será, sempre e simplesmente, o Manel. Ai vida dura!
Acontece-me muitas vezes, quando corrijo o meu interlocutor ao telefone informando-o que não sou "dotôr", sentir quão inconveniente eu fui. Apercebo-me nessa altura de um mal-estar do outro lado da linha, como quem me diz que “isso” para o caso não tem importância nenhuma. Que esse tratamento me fora atribuído como mera formalidade reverencial. É então que caio em desgraça e vertiginosamente passo a ser apenas o Xôr João.
Curiosamente, na indústria hoteleira em que trabalho, um meio extremamente hierarquizado, até há poucos anos pura e simplesmente não havia "dotôres". Talvez por esta carreira nunca ter sido considerada muito prestigiante, antes algo servil.
Mas hoje, ironicamente, integram-se nesta indústria, nas chefias intermédias e cargos técnicos (recepção, comercial etc.), muitos jovens licenciados cujo reconhecimento do título de "dotôr" ainda não tem sentido, nem é valorizado. Têm que ir à luta, conquistar um lugar cimeiro na hierarquia para que o precioso tratamento um dia “conquiste” a luz do dia. E talvez, quem sabe, um lugar no cartão de visita.

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Postais blogosféricos

1. Excelente, a ideia do Henrique Fialho de homenagear Mário Cesariny neste postal que constitui uma bela síntese do que foi publicado em vários outros blogues.
2. Ana Cláudia, fizeste muito bem em voltar aos teus Quatro Caminhos. Confesso: já andava com saudades...
3. O Hugo Alves é autor de um dos melhores blogues cinéfilos que conheço. Com um título inspirado em Fellini. A partir de hoje, temos o Amarcord na nossa lista de favoritos.
4. O Despropósito entrou no segundo ano de existência. Um abraço de parabéns, António.
5. Um abraço também ao Rui Castro por ter incluído o Corta-Fitas nas nomeações para melhor blogue e melhor blogue temático de 2006. Uma satisfação ainda maior por sermos fãs dos Incontinentes Verbais.
6. Mais três dias de greve no metropolitano, Helder? Não sabia. Mas vem mesmo a jeito, para o pessoal lá da empresa começar a fazer já umas comprinhas de Natal. E podiam fazer também greve àquelas notícias foleiras que os utentes têm de gramar enquanto esperam pelo metro. Se não existissem, ninguém perdia nada.
7. Esta Susaninha decidiu brincar aos crescidos. E está a conseguir dar nas vistas.
8. Para perceber melhor as teias da economia real e virtual, nada melhor do que vir aqui. Dá asneira, pela certa. Mas reciclada.
9. Agora que estão na moda as votações na blogosfera, aqui fica o meu prémio para o Luís. Pelo melhor sentido de humor, no seu jeito de franco-atirador.

O "não" de Mendes e os seus riscos

O PSD continua animadíssimo, enquanto faz o seu tirocínio de alguns anos de oposição. Marques Mendes, de volta do Brasil, após um período intenso de contactos (como se pôde ler no Expresso ou no Público), defendeu um investimento sustentado em barragens. Mas depois de ler isto fiquei com a sensação de que se estaria a referir a barragens para impedir o caudal de água que pode entrar a qualquer momento na São Caetano à Lapa...
Barragens à parte, Marques Mendes anunciou hoje a sua posição em relação ao referendo de 11 de Fevereiro: "vou votar 'não' neste referendo, tal como votei no referendo anterior. Não vejo razões para mudar de opinião e considero que a actual lei é equilibrada".
Aí está a resposta de Mendes à declaração de ontem do Presidente Cavaco Silva, que pediu um envolvimento da comunicação social no esclarecimento do que está em causa e pediu, sobretudo, mais trabalho aos partidos políticos e associações envolvidas na campanha. Atente-se às duas "observações" que o Presidente anotou: "em primeiro lugar, é imprescindível que o debate sobre uma questão deste alcance decorra com a maior serenidade e elevação. Nesse sentido, apelo a que a campanha que se vai realizar em torno deste referendo constitua uma oportunidade para que se realize um debate sério, informativo e esclarecedor para todos aqueles que irão ser chamados a decidir uma matéria tão sensível como esta. Em segundo lugar, é essencial que as diversas forças políticas bem como os movimentos da sociedade civil, disponham de tempo e condições para se organizarem e mobilizarem de modo a poderem manifestar e divulgar as suas ideias e convicções. Importa, no entanto, que o debate se não prolongue para além de um prazo razoável".
A verdade é esta. Mendes disse que vota "não", mas será que está disposto a envolver-se na campanha, a pugnar pelo esclarecimento dos votantes, como pediu Cavaco Silva? Duvido. O PSD irá ter liberdade de voto, muitos dos seus mais destacados dirigentes e ex-dirigentes estarão do lado do "sim" - como é o caso de Paula Teixeira da Cruz, Miguel Relvas, Ana Manso ou de Vasco Rato, para dar alguns exemplos emblemáticos -, portanto irá estar partido ao meio. Mas Mendes, se realmente pensa aquilo que diz, pode envolver-se como cidadão, tal como fará José Ribeiro e Castro. Ao fazê-lo estará a empenhar-se por aquilo em que diz acreditar, mas também estará a arriscar-se a ter a sua primeira derrota. Depois de umas autárquicas e umas presidenciais que lhe correram bem. Mas a vida, como a política, é feita de riscos. E há riscos que valem a pena. Sobretudo se quiser correr esses riscos em nome de convicções verdadeiras e não meramente ao sabor das tácticas.

Porque amanhã é feriado

Esqueçam o novo James Bond. Fixem antes a nova Bond girl: Eva Green. Inesquecível. For your eyes only.

Picardias em tom laranja

Parece que até Luís Filipe Menezes tem um blogue. Veja-se o que diz de Marcelo Rebelo de Sousa, num post de anteontem...

Xmas in NY


Uma patinadora passa por cima de um foco de luz em forma de floco de neve, durante a 74ª cerimónia anual de iluminação da árvore de Natal gigante no Rockefeller Center, em Nova Iorque. Foto: Justin Lane/EPA

Tertúlia literária (104)

- Ando a reler Redol.
- Já li. Era um pseudónimo do Cunhal.

A menina da bilha na Baixa da Banheira


Com os meus agradecimentos ao João Prata pelo envio e servindo também de ilustração para o meu outro post abaixo.

De mau gosto o mau gosto*

Ou li muito mal a crónica de hoje de Pacheco Pereira ou lhe deu para transformar-se em Maria Filomena Mónica. Escreve ele que «os filhos dos deserdados das cheias, os filhos dos operários do Barreiro, os filhos das criadas de servir, os filhos dos emigrantes de Champigny, os filhos da "canalha" anarco-sindicalista e faquista de Âlcantara mandam no consumo» (...) «Entraram pelos cafés dentro e transformaram-nos em snack-bars e em lanchonetes, entraram pelas televisões e querem os reality shows». «O que sobra?» de acordo com PP, é «uma nova forma de elitismo, a única que salva, no sentido bíblico, a criação».
Não percebo a associação feita entre os «filhos das criadas» e o descalabro cultural como se o berço determinasse o programa que se vê ou o gosto pelos azulejos. Nem sequer percebo se Pacheco Pereira fala a sério ou não, quando escreve sobre o tempo em que «a elite, que éramos nós (ele e Jorge Silva Melo e outros), decidia em questões de bom senso e bom gosto».
Parece-me é que a elite continua a decidir. Assumiu foi que o seu bom gosto é sustentado pelo que factura servindo o mínimo denominador comum que é o mau gosto da maioria. Agora se essa maioria é filha deste ou daquele, isso pede um trabalho de campo sociológico capaz de surpreender. Conheço muito boa gente no Restelo para quem a Literatura é «o Paulo Coelho». Os pais, no entanto, eram servidos à mesa. E conheço também filhos de «operários do Barreiro» que tiraram cursos e lêem as crónicas de Pacheco Pereira.
*Título roubado a Caetano Veloso.

Sondagens, só no Continente


Hoje sinto ter sobre os meus ombros a missão de avisar o Diário de Notícias de que o Verão acabou e estamos às portas de Dezembro. Não por causa do tema de capa «Comemos mais sal que os espanhóis» com frases como «O Kinder Bueno espanhol tem menos 60% de açúcar» mas por esta página intitulada «Maioria apoia o não à Madeira independente». A enfática legenda da foto que acompanha esta sondagem aos continentais é a seguinte: «Apesar de todas as declarações de Alberto João, os portugueses são claros: a Madeira deve continuar parte integrante de Portugal».
Meus amigos, caro João Pedro Henriques, senhoras e senhores do DN, não tendes mais tema nenhum para sondar? A Turquia? A reabertura do processo de Camarate? As salas de chuto?
Se os resultados fossem - por absurdo - os opostos, achais que isso provocaria o quê? E os madeirenses não são portugueses ou não são claros? Vamos ter uma sondagem só sobre o que eles pensam «apesar das declarações de AJJ»? Perguntas, perguntas...

quarta-feira, novembro 29, 2006

PCP: excepção à regra

Se há coisa que me surpreende, quando estala um conflito entre comunistas, é a suspensão do juízo crítico num certo discurso jornalístico sempre pronto a disparar contra todos os partidos, a propósito de tudo e de nada, excepto contra o PCP. Esta característica não tardou a alastrar à blogosfera portuguesa, onde é possível ver uma pessoa de espírito acutilante, como o Filipe Moura, transferir eventuais críticas ao procedimento da direcção comunista... para os jornalistas que ousam criticá-la. Argumenta o Filipe, num postal do seu O Avesso do Avesso, que a deputada Luísa Mesquita violou um compromisso estabelecido com a liderança comunista que pressuporia a sua substituição a qualquer momento por mera vontade discricionária dos organismos centrais do partido.
Gostava de dizer ao Filipe o seguinte:
- Nenhum compromisso particular, de cariz partidário ou outro, pode sobrepor-se ao estabelecido na Constituição da República, que considera indelegável o mandato de deputado, que "representa a Nação".
- A direcção do PCP faltou ao contrato de transparência que deveria necessariamente ter estabelecido com o eleitorado nas legislativas de 2005, pois não informou então os portugueses de que tencionava "renovar" um quarto da bancada parlamentar ainda antes de concluída a primeira metade da legislatura.
- Luísa Mesquita considera não ter violado o pacto estabelecido com a direcção do partido, na medida em que esse acordo pressupunha que uma eventual substituição em São Bento só poderia decorrer de uma avaliação negativa (no plano político ou no plano técnico) da sua actividade parlamentar. Ora nenhum destes pressupostos se verificou, como o próprio secretário-geral do PCP admitiu. Se a sua competência como parlamentar é indiscutível e o seu desempenho político é inquestionável, para quê aceitar de ânimo leve uma substituição tão arbitrária que a deputada não solicitou (ao contrário do sucedido com Odete Santos, que pelo menos desde 2000 vinha pedindo para ser rendida no Parlamento)?
Disciplina partidária é uma coisa, deputados amestrados pelas máquinas dos partidos é outra - bem diferente. Não questiono a primeira, mas de modo algum posso aceitar a segunda, seja em que partido for. E estranho que o Filipe a aceite. Lamento informar, mas pela minha parte jamais suspenderei o juízo crítico. Sem excepções de qualquer espécie.

Lamento dizê-lo

Mas se progressivamente fui perdendo pachorra para ler Paulo Gorjão, ainda menos a tenho para as alturas cada vez mais recorrentes em que insiste no loop das suas obsessões e repetições ad nauseam. Que uma delas envolva pessoas que morreram em circunstâncias trágicas e não tiveram ainda sequer direito a funeral, parece-me doentio.
Não sei o que acha que consegue com isto mas, na parte que me diz respeito, só me resta desejar-lhe, como fazem os chineses, que atravesse «tempos tão interessantes» como aqueles que os camaradas, amigos e familiares dos falecidos neste momento infelizmente atravessam.

Notícias do império


A NATO está cada vez menos atlântica e já não consegue esconder os seus graves problemas militares no Afeganistão. Não sei se já repararam que o Presidente americano que mais bateu no peito, a afirmar que não precisava de aliados e que podia fazer tudo sozinho, conseguiu convencer os europeus (que desdenhou) a umas aventuras em terras bárbaras: há europeus no Afeganistão, há e houve no Iraque, no Kosovo e no Líbano. Estou-me a esquecer de alguma guerra? Os europeus têm acompanhado lealmente (outros diriam servilmente) todas as paradas, apenas para prosseguir o discurso arrogante de alguns que não entendem a natureza desta relação e se prolongar o mito de que a Europa não tem futuro, não passando de um caso perdido.

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Quem diria

A revista FHM seleccionou 50 blogues e o nosso foi o 49º. Mas calma aí! Aparecemos entre os blasfemos e Pacheco Pereira num triunvirato com direito a caixinha vermelha (??) e ao lado do título «Política. Aqui se fala no Estado da Nação».
Como sei que os nossos/as leitores/as são incapazes de comprar ou sequer ler por cima do ombro revistas com maminhas, aqui fica a transcrição:
«Actualidade política e cultural, bem escrita (leram bem ó anonymous?) e provocadora, nem tanto à esquerda nem tanto à direita. É um colectivo, quase todos jornalistas, e tem a vantagem de podermos ter opiniões bem fundamentadas sobre o que vai acontecendo - das derrotas do Benfica (aqui tenho algumas dúvidas) às intervenções de Cavaco Silva (é verdade, basta ler o post do FAL já a seguir). À sexta têm uma miúda gira».
Ah, pois temos! E às vezes em outros dias também. Obrigado, ó gajos. É verdade que o artigo também menciona blogues que o pudor me impede de referenciar, mas lá que dá credibilidade à revista, lá isso dá. 31 da Armada, roei-vos de inveja (é verdade que na altura do fecho eles ainda não existiam, mas isso é um detalhe irrelevante).
P.S. Comprem a revista e, por mais 2,99, têm direito a um calendário pouco ou nada natalício mas muito estimulante.

Referendo

O referendo ao aborto deverá ser marcado para dia 11 de Fevereiro. Mas aguardemos pelas declarações de Cavaco Silva, a partir das 20h, sobre o que fundamenta a sua decisão. Não será ainda desta vez, com toda a certeza, que o Presidente da República dará algum sinal sobre o que são os seus princípios éticos, morais e também políticos na matéria. Cavaco Silva fará apenas o enquadramento jurídico-constitucional que o levou a decidir-se pela marcação da consulta. Nada mais. Arrancar uma palavra que seja ao Presidente sobre o assunto até Fevereiro será muito difícil, ou mesmo impossível. Apesar de todos sabermos que o PR foi associado a movimentos do "não" - a um em particular, onde militavam vários cavaquistas - no referendo de 1998. Agora é diferente. Cavaco está em Belém e a partir dali qualquer expressão fora do contexto irá colocar o principal e o primeiro órgão de Estado na luta referendária. O que certamente não se deseja. Mas os discursos, as intervenções, as aparições públicas serão analisadas à lupa, em busca de uma tirada, uma frase fora do contexto, nem que seja meramente indicativa. Cavaco Silva será, em certo sentido e em larga medida, um Presidente vigiado até ao dia 11 de Fevereiro, se a data se vier a confirmar.
O prazo é curto. Sobretudo para os defensores do "não", que, a avaliar pelos estudos de opinião, têm uma desvantagem a combater. Há o Natal, o Ano Novo, as festas, as idas para o estrangeiro, para a terrinha, há todo um alheamento que beneficia o "sim", mas que faz com que quem esteja do lado do "não" deva arregaçar as mangas desde já e partir para o terreno. Porque desta vez não há um PSD e um CDS/PP (sob as lideranças de Marcelo e de Portas) tão empenhados como em 1998. O PSD de Mendes irá partir-se ao meio entre o "sim" e o "não", enquanto José Ribeiro e Castro poderá ficar demasiado isolado na luta. Bem intencionado, irá para a rua quase sozinho, como presidente do CDS e como partidário dos movimentos do "não". Nenhum dos dirigentes do antigamente (muito menos Paulo Portas) irá com ele para o terreno, sob pena de estarem a ajudá-lo a ficar ao leme do partido. Na primeira consulta, Portas e Nobre Guedes criaram dezenas de pseudo-movimentos de cidadãos, todos com nomes diferentes, muitos made in Largo do Caldas. Agora os cidadãos terão que valer por si. Nos blogues, nos jornais, em conferências, jantares e almoços. Nas ruas, enfim. Contra um secretário-geral do PS e primeiro-ministro muito empenhado no "sim" (em 1998 Guterres estava do lado oposto e não fazia campanha), contra metade do PSD, contra o PCP e o Bloco. Com a ausência dos notáveis do CDS. Mas com a Igreja, que, domingo a domingo, poderá ajudar a tentar fazer a diferença. Desta vez o jogo não é fácil.

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Ondina, Ondina


Admito que isso possa chocar algumas consciências, mas simpatizo muito com este grupinho. E não é só pela vocalista que dá o nome a este post. (Advertência: Os anonymous mais veteranos que não se atrevam a massacrar-me com as vampiras lésbicas)

Francamente

O PS de Vila Franca de Xira tem o sentido de humor de uma retro-escavadora enxertada com o cérebro do Noddy. Leio, numa notícia assinada no Público por Jorge Talixa, que o Ministério Público «decidiu constituir arguido» o ex-presidente da Concelhia do PSD local, Rui Rei (não confundir com Rui Rio - eh,eh, já vos estraguei os trocadilhos).
Aconteceu que cinco senhores socialistas se queixaram de uns cartazes de rua que «incluíam expressões como dolorosa, polvorosa e vagarosa». Certamente pensando que quem não sente não é filho de boa gente - e sabendo que o polvo é um animal com poucas simpatias, excepto quando cozinhado à lagareiro ou com arrozinho malandro (eh pá, escrevi agora “malandro” mas foi sem querer) - os senhores sentiram-se. Porque era ofensivo e punha em causa a honorabilidade e tal. A imagem que acompanhava os cartazes era a de uma rosa com GRANDES espinhos.
Ora, esta atitude é muito parvinha (e agora já podem processar-me porque foi de propósito). Não sei quem fez a campanha mas o PSD perdeu, o que diz algo sobre a sua eficácia apesar da sintética jocosidade. O PS ganhou mas, mesmo assim, processaram o senhor para absolutamente nada, como é bom de ver, além de darem trabalho ao tribunal local e perderem tempo que pelos vistos lhes sobra. «O Ministério Público decidirá se deduz ou não acusação contra Rui Rei», de acordo com a notícia. Espero sinceramente que decida não o fazer. Estas coisas em campanha respondem-se na mesma moeda. O PS devia era ter feito cartazes com as frases «Não queremos uma vila com o Rei na barriga», ou «O que o Rei quer é o bolo». Humor com humor se paga.

A questão turca

Concordo com esta opinião de Miguel Vale de Almeida: a posição do Vaticano em relação à Turquia é a mais correcta e terá certamente um poderoso impacto na opinião pública europeia.
A visita do Papa à Turquia está a motivar numerosos comentários na Imprensa, TV e blogosfera e li textos onde se dá importância (a meu ver excessiva) às actuais dificuldades da negociação entre europeus e turcos.
Desde o momento em que se decidiu avançar com as negociações, no ano passado, que estas negociações estão a decorrer. Os progressos são lentos e há vicissitudes. Mas não se pode falar de recuos, pois o processo de negociação prossegue. A ameaça de suspensão por causa da questão de Chipre faz parte desse processo e já aqui escrevi sobre o assunto sublinhando que os europeus também estão a quebrar uma promessa. Mas a decisão de suspender o processo ainda não foi tomada, apesar da ameaça. E, se isso acontecer, as negociações ainda podem recomeçar, quando a questão de Chipre desaparecer do horizonte.
Foi neste contexto que surgiu a nova opinião do Vaticano, favorável à adesão da Turquia, e que inverte uma posição com dois anos. O Vaticano não é membro formal da UE (o território faz parte da UE e tem mesmo moedas de euro, embora sem poderes ou participação nas decisões).
Mas a visão do Papa Bento XVI vai facilitar o processo de adesão da Turquia, através da influência. Por exemplo, Áustria e França, dois dos países com opinião pública menos favorável à entrada dos turcos, são ambos católicos.
A prazo, a posição do Vaticano ajudará a mudar a percepção que os europeus têm da Turquia. A adesão desta nunca acontecerá antes de 2015, portanto, haverá muito tempo para mudar a sociedade turca e para acabar com a crise interna da UE.

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Ou não acha?

Olhe que não, fernanda. Perdoar é sermos fiéis à realidade. Daquilo que somos, daquilo que o outro é. Daquilo que deixámos que nos tornássemos ambos. Perdoar é compreender. E a vingança um prato que não se serve mas antes se come frio e, por isso, não tem sabor. Não se deixe também seduzir pelo charme mafioso dos Tonys da vida. Matar é morrer.

Olhem para mim, a tentar escrever a sério


Dois excelentes post do Eduardo Pitta sobre o Processo de Bolonha e a reacção dos académicos. Tive ocasião de participar, há cerca de 3 anos, na organização de um debate interno para a adequação a Bolonha dos cursos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova, no Monte da Caparica.
Na ocasião detectei, como menciona o Eduardo, algumas resistências às eventuais consequências de Bolonha essencialmente em dois níveis: Uma preocupação com a redução da formação específica nos cursos de Física e Química, por exemplo. E no efeito que teria na diminuição do peso, nos diversos cursos, das cadeiras das matemáticas e física. A basezinha.
O que me pareceu positivo foi o cruzamento que permite aos alunos - entre o Major e o Minor -poderem conciliar cadeiras que se aproximam do que é desejado por quem estuda: Que não os obriguem a optar cedo demais por uma especialização limitadora dos seus interesses e opções futuras. O mercado de trabalho, aliás, também premeia cada vez mais um conhecimento de crossover entre várias áreas sem abdicar, obviamente, das competências específicas que estão na origem da contratação.
Já o que achei, se não negativo pelo menos complicado, foi isto: Com a redução das licenciaturas e ficando o que até agora considerávamos como tal equivalente a um Mestrado, como conciliar os menos anos de curso com a aquisição do Saber? Quanto a mim, isto pedirá aos professores e ao conteúdo dos cursos maior exigência, maior adequação entre a componente teórica e a prática e muita, muita atenção à actualidade do conhecimento transmitido. Os professores terão de estudar, é o que me parece.
Curiosamente, a ideia com que fiquei foi a de que o Processo de Bolonha cria uma clivagem, isso sim, entre quem defende o papel da Universidade como «útero» para a investigação e quem quer, cada vez mais, aproximá-la das empresas e do mercado. Mas isto já é outro assunto, e não para mim de certeza.

Excepção à regra


Bem sei que hoje não é sexta-feira mas, com a breca, Gena Lee Nolin perfaz hoje 35 primaveras. E ainda há quem não acredite que foi Deus quem criou a mulher! Parece impossível. Também hoje, muito menos atraente do que ela na parte que me diz respeito, faz 45 anos o meu amigo João Gonçalves. Parabéns, João. Já comparaste a tua carta astral com a da Gena?

Boa vida

Gostava de saber a opinião do nosso Duarte sobre este Grandezas & Misérias da Invicta no A Cozinha da Joana. Um blogue onde, para além da crítica e das receitas de fazer àgua na boca - mesmo a esta hora matinal em que escrevo - a coluna de links gourmet também convida a viagens paralelas de exploração gustativa.

terça-feira, novembro 28, 2006

Gostei de ler

1. A morte e o lixo. Do Pedro Mexia, no Estado Civil.
2. Um amor de Bond. Da Fernanda Câncio, na Glória Fácil.
3. Lenine está vivo e habita em São Bento. Do Pedro Soares Lourenço, na Arcádia.
4. A caricatura. Do Daniel Oliveira, no Arrastão.
5. Noi siamo forti. Do João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
6. IVG. Do Sérgio Lavos, no Auto-Retrato.
7. Tásse, butes lá? Do José Raposo, no Dolo Eventual.
8. The Misfits. Do Hugo Alves, no Amarcord.
9. As circunstâncias e eu. Da Helena Botto, nos Tristes Tópicos.

Salve, Fernando!

O meu grande amigo Fernando Sobral sofreu uma «camoeca» que me preocupou bastante, mas agora está a recuperar da melhor forma. A prova disso é o seu novo blogue, que promete aquecer a já fervilhante blogocoisa. Chama-se O Pulo do Gato, como a sua coluna diária agora interrompida no Jornal de Negócios e vou linká-lo aqui logo que possa. Visitem-no, pois.

Castro vs Oliveira


Lido isto, aposto dobrado contra singelo num empate técnico ao terceiro assalto.

Patrocínio histórico


A New Line Cinema, empresa pertencente à Time Warner, viu respondidas da melhor forma as suas orações. Num gesto sem precedentes, o Vaticano ofereceu-se como local para uma estreia mundial do novo filme «The Nativity Story», a qual contará com a presença de 7.000 fiéis e a presença do próprio Papa.
De acordo com a revista Ad Age, este é «um endorsement de valor incalculável». «Tinhamos esperança que o Vaticano aprovasse e apoiasse o filme, mas podermos fazer lá a nossa estreia vai para além de tudo o que pudéssemos desejar», afirmou Camela Galano, presidente da New Line International.

Nós por cá todos bem

Selon les chiffres du Conseil économique et social cités par "Génération-Précaire", 800.000 stages sont effectués chaque année. L'organisation affirme que 100.000 emplois équivalents à des temps pleins sont déguisés en stage.
Tradução para português não disponível no site do Ministério do Trabalho

Auto-entrevista não autorizada

Cansado de esperar pelo convite do Luís Carmelo aqui fica, não solicitada mas muito «proactiva» como agora soe dizer-se, a minha entrevista ao miniscente.

O que é que lhe diz a palavra “blogosfera”?
Nada. Normalmente sou que a digo. Tenho uma tendência para proferir palavras e não para as ouvir, mas admito que possa dever-se a mais um dos meus muitos problemas de infância.

Qual foi o acontecimento (nacional ou internacional) que mais intensamente seguiu apenas através de blogues?
Sem dúvida o Darfur. Espere, voz amiga está aqui a dizer-me que ainda ninguém falou do Darfur…hmmm…então não me lembra.

Qual foi o maior impacto que os blogues tiveram na sua vida pessoal?
Destruíram-na. Só não me queixo porque passei a viver a vida pessoal de outras figuras, muito mais interessantes do que eu. Mas estou a tentar melhorar. Já me esforço por ouvir duas em cada dez frases proferidas pela minha mulher, enquanto navego nas águas pejadas de perigosos recifes da blogocoisa.

Acredita que a blogosfera é uma forma de expressão editorialmente livre?
Claro que sim. Mesmo na imprensa, ou no audiovisual, os editores sempre foram livres de cortar ou acrescentar o que lhes desse na veneta.

Uma vacina contra a depressão

A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê «uma autêntica pandemia depressiva» nos países ocidentais nos próximos 20 anos, disse hoje à agência Lusa João Marques Teixeira, da Ordem dos Médicos.

Movido pelo meu espírito filantrópico, deixo já aqui a dica de que, a ser assim, uma das melhores formas de combatermos a pandemia na parte que nos toca é aplicarmos a massa em acções das farmacêuticas. Aqui fica o gráfico do histórico de dividendos distribuídos pela Roche, proprietária do famoso Lexotan:

Est ce que l'on peut oublier son première amour?


A rapariga que se vê na foto, de compridos cabelos louros, foi a minha primeira paixão do pequeno ecrã (aliás, a primeira paixão, ponto final). A personagem tinha o poético nome de Marion de la Neige e hoje é vendedora imobiliária no Canadá. Na altura, em que nem VHS ou Beta existiam, tudo o que consegui foi gravar-lhe a voz numa cassete velhinha que resiste ainda à passagem do tempo. Recentemente, a série foi editada em dvd e agora posso vê-la, imaginem, a cores. Um prémio a quem acertar no título destes episódios, que a RTP Memória bem podia recuperar um destes dias. Estou certo de que não estou sózinho neste pedido desinteressado.

«Provavelmente» é uma palavra bonita


A não perder a leitura de hoje da coluna no Público «Quase memórias...Umas verdades», assinada por Carlos Vale Ferraz (pseudónimo literário do Coronel na Reserva Carlos Matos Gomes) e com pérolas como esta:
«Com honestíssima modéstia o doutor Almeida Santos reconhece que os políticos portugueses estiveram mais uma vez fora dos grandes assuntos da História de Portugal, entretidos, como lhes é próprio, a tratar da vidinha e dos negócios».
Ou, a propósito da ausência de relações politicamente eficazes com os movimentos de libertação:
«Que andaram os oposicionistas a fazer por França, por Argel e Roma se não foram reconhecidos, nem respeitados, nem tidos em conta passou a ser um mistério que a participação do doutor Almeida Santos não esclarece, antes adensa».
No artigo de Adelino Gomes que a crónica acompanha, parece que o Dr. Almeida Santos terá comentado - a propósito da transferência de bens para a metrópole - «que terá sido, provavelmente (negrito meu) "o único residente de Moçambique que não trouxe tudo quanto podia trazer"».
É verdade que todos trouxeram o que «podiam trazer», como me parece óbvio. A questão, como o Dr. Almeida Santos bem sabe, é o que não puderam trazer todos aqueles que, provavelmente, hoje não podem ouvir o nome do Dr. Almeida Santos sem proferir alguns adjectivos que aqui me escuso de repetir.

Terei sido enganado?

Ontem, dei comigo a ver o Prós e Contras, que era sobre o ensino superior, até às 2 h da manhã. À partida, ao ver não sei quantos reitores contra o ministro Mariano Gago, esfreguei as minhas mãos laranjinhas de contente e pensei: isto vai ser um massacre. Mas não é que achei que não só Mariano Gago se saiu muito melhor, como estou de acordo com ele e parece-me que está, e irá, fazer realmente um bom trabalho? É claro que ele foi prejudicado pela ridícula propaganda do Governo a anunciar grande orçamento para a Ciência, mas a verdade é que justificou os cortes que fez no dinheiro para as universidades, mandou-as ir buscar dinheiro noutros lados que não no Estado, quer diminuir o absurdo número de licenciaturas que temos (em Comunicação Social sabemos bem o que isso é), fazer com que se cortem despesas, se tornem mais eficientes na investigação, etc. É claro que isto de socialista e de esquerda não tem nada, mais parecendo o programa de um partido considerado de direita. Até que enfim que, depois da demissão de Campos e Cunha, vejo um ministro deste Governo em que acredito.

Tertúlia literária (103)


- Onde leste a notícia?
- Ali em frente. Disse-me o dono da tabacaria.
(Café Savigny-Berlim)

segunda-feira, novembro 27, 2006

Gato Fedorento, versão Gestapo

Um clássico

Anúncio para a PT

A pérola da casa

«Desconfio que um blog corresponde ao ponto de cruz da minha mãe» e outras deliciosas respostas da nossa Miss Pearls, em entrevista ao Miniscente. Para ler aqui , tout de suite.

Desculpem lá

Eu admito que possa ter uma mente muito, muito pervertida. Mas a fotografia que hoje acompanha a entrevista de Maria José Nogueira Pinto, na página 11 do Público, parece-me obviamente impublicável. Que os editores a tenham deixado passar é algo que extravasa a minha compreensão. Honni soit qui mal y pense mas há limites.

Este Natal

Gostava que me oferecessem isto:





domingo, novembro 26, 2006

corta-fitas.org

Já que estamos em maré de anúncios (desculpem, é domingo), ficam aqui mais duas ou três notas. A primeira para revelar que a partir de agora poderão entrar no Corta-Fitas através do habitual endereço "http://corta-fitas.blogspot.com/" ou pelo (e aqui é que está a novidade) nosso novo domínio "corta-fitas.org". Fica tudo mais simples, sem as barras, pontos https, etc.
Fui também informado de que o indispensável Insurgente tem uma interessante votação a decorrer, entre os melhores blogues de direita e de esquerda. Nós constamos da lista, num brilhante terceiro lugar, a seguir ao Blasfémias e ao blogue da Atlântico... E esta?
Ah, é verdade: a rapaziada (no bom sentido) do 31 da Armada passa a figurar aqui na barra lateral (à direita). Nem se pode dar as boas vindas, pois a maior parte são já bloggers mais do que experimentados. Mesmo assim, é bom ir lá fazer umas leituras, num blogue verdadeiramente de terceira geração. Parece que aquilo, ainda por cima, é um "wikiblog", tem toques não sei o quê e é todo XPTO.

P.S. - Não pus os respectivos links porque me deu para escrever isto num iMac que não o permite. Logo que volte à normalidade (ao meu PC) irei fazê-lo.

Cada um tem o que merece

É recorrente e confrangedor: não há coisa mais irritante do que assistir pela televisão a um jogo da nossa liga betadine, num estádio com meia dúzias de milhares de espectadores (quando joga um dos grandes) e termos como som de fundo uma voz esganiçada, de um megafone: HOOOLEEEE-HOOOEEEE-HOOO-HOOO! NIGUEM-PARÒ-LARI-LOLÉ-HOOOOO.
Ponho-me a imaginar se se trata da voz da voluntariosa mulher do presidente do clube da casa, ou se é apenas um anónimo e persistente manuel, destacado como solista da deprimente claque.
Não há um sonoplasta de serviço que mude o microfone de sítio?

A cooperação estratégica Cavaco-Sócrates

Depois de olharmos um bocadinho para o umbigo, acabámos de lançar um novo questionário sobre um dos temas de maior actualidade, fruto das palavras de Cavaco Silva na entrevista à SIC, em que reconheceu que o Governo é "reformista": o entendimento entre Belém e São Bento. Assim, na barra lateral à direita que aparece no vosso computador vão poder ler: "Como se sente com a cooperação estratégica entre o Presidente da República e o primeiro-ministro?"
Neste momento, já votaram 15 leitores e os resultados são os que se seguem: eufórico - 7%; bem - 33%; mais ou menos - 33%; revoltado/deprimido - 27%. As análises ficam para depois, quando houver um maior número de aderentes ao questionário.

Eles (e elas) gostam

Na semana em que arrancamos com um novo questionário no Corta-Fitas, fica bem assinalar os resultados do primeiro de sempre, que nasceu com o novo "template" e que versava justamente sobre o mesmo. À pergunta "Gosta do novo design do Corta?" responderam 68 dos nossos leitores, sendo que 50% respondeu "gosto muito" e 28% optou por dizer "gosto". Ou seja, uma maioria absolutíssima... Apenas 13% disseram "mais ou menos" e uns míseros 10% disseram "nada".
Está feito o balanço, muito positivo, e que serviu neste caso para termos uma ideia significativa do que pensava uma amostra dos nossos leitores (visto que nesta altura estamos com audiências quase sempre superiores aos 900 leitores/dia nos dias de semana) da mudança de "template". Está aprovado, vamos em frente.

Na morte de Mário Cesariny (1923-2006)

Louvor e simplificação de Álvaro de Campos
(Fragmento)

Paro um pouco a enrolar o meu cigarro (chove)
E vejo um gato branco à janela de um prédio bastante alto
Penso que a questão é esta: a gente—certa gente—sai para a rua,
cansa-se, morre todas as manhãs sem proveito nem glória
e há gatos brancos à janela de prédios bastante altos!
Contudo e já agora penso
que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar
— vêem com tal desprezo esta sociedade capitalista!
Servem-se dela, mas do alto, desdenhando-a ...
Não, a probabilidade do dinheiro ainda não estragou inteiramente o gato
mas de gato para cima—nem pensar nisso é bom!
Propalam não sei que náusea, revira-se-me o estômago só de olhar para eles!
São criaturas, é verdade, calcule-se,
gente sensível e às vezes boa
mas tão recomplicada, tão bielo-cosida, tão ininteligível
que já conseguem chorar, com certa sinceridade,
lágrimas cem por cento hipócritas.

Mário Cesariny de Vasconcelos
Nobílissima Visão (1945-46)
.............................................................................


A time to weep, and a time to laugh. A time to mourn, and a time to dance.
(Eclesiastes 3:4).
fotog

Todos morremos a cada dia que passa

Rosyln Taber (Marilyn Monroe), desencantada da vida, interessou-se pelo único homem que, sabendo ver para além das aparências, percebeu que ela era infeliz. Percebemos isso num sublime diálogo que marca Os Inadaptados (The Misfits), obra-prima de John Huston e um dos grandes filmes dos anos 60. "És a mulher mais triste que conheço", diz-lhe ele. "És o único homem que não me diz que sou feliz", espanta-se ela. Rendida à dilacerante argúcia daquele anacrónico cowboy que faz do deserto do Nevada o seu lar iluminado por estrelas "tão longínquas que podem estar já mortas no instante em que olhamos para elas".
É ficção, claro. Mas podemos vislumbrar em tudo isto uma alegoria da própria Marilyn na fase crepuscular da sua carreira que culminaria pouco depois no mais mediático suicídio da história do cinema. É compreensível: o argumento foi escrito por Arthur Miller, casado com a actriz, e era já então evidente que o casamento estava condenado ao fracasso. Aliás, nenhum cineasta como Huston soube tão bem filmar o fracasso: é disto que se trata também em The Misfits. O próprio Gay Langland (Clark Gable), epítome do "último verdadeiro homem americano", como o descreve Isabelle Steers (Thelma Ritter), está num beco sem saída: deixou de haver lugar para pessoas como ele numa América que se despedia dos seus mitos na década de todas as convulsões. "Tenho de arranjar outra maneira de me sentir vivo, se houver alguma", confessa ele, à beira do fim. Também neste caso o filme teve carácter premonitório: Gable faleceu duas semanas após a conclusão das filmagens. Com ele morria uma era de Hollywood: o cinema clássico tornava-se moderno. Igualmente sob este prisma, Os Inadaptados decorre sob o signo da despedida.
Uma obra cinematográfica pode ser apreciada de várias maneiras, conforme as alterações registadas no nosso olhar. Só ontem, ao vê-la pela terceira vez (agora na Cinemateca), me apercebi que esta película onde não morre ninguém é afinal uma película sobre a morte - uma das mais pungentes de que há memória. Calhou olhá-la num dia muito doloroso, marcado pelo trágico desaparecimento de uma colega. E de súbito todo aquele enredo adquiriu para mim um novo sentido. É de perda que este filme nos fala, num subcontexto que o percorre por inteiro. Numa das sequências mais extraordinárias que Huston rodou, Roslyn, à distância, grita para os homens que prosseguem a absurda caça aos cavalos selvagens: "Vocês os três estão mortos!" (os outros dois, além de Gay, são Perce Howland, interpretado por Montgomery Clift, e Guido, interpretado por Eli Wallach). "Todos, homens e mulheres, estamos a morrer a cada momento que passa", lembra ela noutra cena. E Gable, quase numa frase-testamento, diz: "Um homem que tem medo de morrer tem medo de viver."
Os inadaptados eram todos eles - deserdados da fábrica de sonhos, na tela como na vida. E até que ponto não seremos também nós?

Imagem: Marilyn Monroe durante a rodagem de Os Inadaptados (1961), de John Huston

É só e é tudo

O Paulo Gorjão espanta-se com isto. Eu explico-lhe: porque os jornais e outros órgãos de informação, por enquanto (e felizmente), não são feitos por máquinas, mas por pessoas. Com sentimentos, naturais e respeitáveis. Quando desaparece um camarada de profissão, é também algo de nós que se perde irremediavelmente. É só. E é tudo.

sábado, novembro 25, 2006

No centenário de António Gedeão


HOMEM

Inútil definir este animal aflito.
Nem palavras,
nem cinzéis, nem acordes, nem pincéis
são gargantas deste grito.
Universo em expansão.
Pincelada de zarcão
desde mais infinito a menos infinito.

In Movimento Perpétuo (1956)

Blogues em revista

Mar Salgado: “A tropa confirma, uma vez mais, a velha regra segundo a qual existem três maneiras de fazer uma coisa: a certa, a errada e a militar.” (Filipe Nunes Vicente)

Insónia: “Conheço pessoas que passam a vida a dizer mal do que amam. E outras que dizem muito bem do que odeiam. É tudo uma questão de estratégia.” (Henrique Fialho)

Jantar das Quartas: “Ouvi de passagem a notícia que um tubarão enorme tinha sido apanhado em Portugal. Fiquei impressionado. Mas afinal, era mesmo um tubarão do mar e não um potentado da banca, um cacique da política ou um mafioso do futebol.” (Eurico de Barros)

O Bacteriófago: “O país, com excepção de Soares no segundo mandato e de Sampaio na crise de Santana Lopes, habitou-se a ter presidentes que se mantinham impávidos e serenos a ver passar a procissão, limitando-se a fazer discursos de circunstância.” (Sérgio de Almeida Correia)

Tomar Partido: “Os comunistas portugueses continuam na senda das purgas estalinistas. Fazem bem em lembrar de vez em quando ao país a verdadeira natureza do partido.” (Jorge Ferreira)

Tristes Tópicos: “O vilipêndio não é uma afronta temível se for realizado com elegância. Acrescente-se que, a vilipendiar alguém, nada mais elegante do que referir o nome do visado com todas as letras, apelidos e pergaminhos. Mais do que uma questão de clareza, é sobretudo uma questão de etiqueta.” (Helena Ayala Botto)

Boca de Incêndio: “A verdadeira beleza não se anuncia sem uma imperfeição.” (António Godinho Gil)

Vício de Forma: "Não conheço argumento mais conservador do que a prudência." (Pedro Lomba)

Inveja de Espanha

Na sua coluna do Expresso, caderno de Economia, o professor Daniel Bessa tem hoje um curioso texto onde, depois de afirmar que os portugueses olham “com inveja” os resultados económicos da Espanha, aponta algumas das fragilidades da conjuntura espanhola, nomeadamente inflação elevada e o facto de o crescimento assentar no “mercado interno”. A conclusão do académico é a de que em economia “não há resultados definitivos”.
Para Portugal, seria um pesadelo se a economia espanhola começasse a derrapar. Nos últimos cinco anos, a Espanha cresceu a um ritmo anual superior a 2,5% do PIB. Entre 1981 e 2000, a média anual foi de 2,8%. A economia portuguesa tem beneficiado largamente desta vizinhança, veja-se a crescente importância económica das cimeiras luso-espanholas e do comércio.
Entre 1981 e 2000, Portugal cresceu mais depressa do que a Espanha, a uma média anual de 3%. Mas, entretanto, entrámos numa crise inexplicável, ou antes, fruto de endividamento e falta de competitividade. Tínhamos modernizado de forma insuficiente e a globalização tem um efeito devastador no modelo português de baixos salários. No ano passado, a economia cresceu 1,1%; este ano, deverá expandir-se entre 1,2 e 1,4%; em 2003, encolheu 1,1%. O ajustamento está a fazer-se pela pauperização dos portugueses: aumento de impostos, quebra no investimento e paulatina baixa de salários. A diferença entre ricos e pobres tende a aumentar.
Estes péssimos resultados ocorreram em simultâneo com uma entrada anual líquida de subsídios europeus equivalente a 2% do PIB. Tire-se o dinheiro europeu e temos uma realidade ainda mais negra.
O que nos vale é que não há resultados definitivos em economia e o nosso empobrecimento não deve durar mais do que uns três ou quatro anos... (adicionais, bem entendido)

sexta-feira, novembro 24, 2006

Uma questão de TAGS - Crónica

Tenho dois amorosos adolescentes em casa. Com eles (e mais através do conhecimento do "mundo" deles), apercebo-me das aspirações e realidade da geração jovem que agora desponta, nos alvores do século XXI. Constato todos os dias que eles (saudavelmente) desconstroem e desconfiam da herança que lhes queremos deixar. Aliás os miúdos acreditam firme e insolentemente que o mundo começou ontem, ao som do hip hop.
Quando eu tinha a idade deles, acreditava ter nascido no auge da história, e viver na curva vertiginosa da definitiva viragem do homem para a clarividência. Toda a iconografia juvenil, a expressão plástica, política e tecnológica nos anos 70 me pareceia apontar nesse sentido. Na tecnologia, pontificava a recente ida à Lua, a alta-fidelidade e o nuclear. O reacender do surrealismo na literatura, os Sex Pistols ou a Patty Smith, a música minimal de Jorge de Lima Barreto a pintura de António Palolo, tudo parecia ser possível, a regra e os limites estavam erradicados. Na moda, nas roupas, em tudo parecia-me impossível mais criatividade. A liberdade era um privilégio dos mais afoitos. Olhando para o hippie de tamancas, roupa "selvagem" e cabelo hirsuto, para as justíssimas calças do punk de cabelo pintado e camisolão até aos joelhos, duvidei que a originalidade e a contestação chegassem algum dia mais longe. O mundo tinha mudado para sempre e eu apanhara o comboio.
Mas olho para os jovens de hoje e espanto-me como a sua imaginação e irreverência se mantêm sem limites. De fato de banho a cair pelas pernas com boxers por baixo, t shirts por cima de camisolas, skate debaixo do braço e fones nas orelhas, aderem a distintas e diversas "correntes" estilizadas, os góticos, dreads, os (ainda) punks, os rastas etc. etc. trocam na Internet ficheiros de temas hip hop construídos pelos próprios, simples protestos ou declarações de amor. E assim, assustados e inseguros, eles afirmam-se donos incontestáveis da verdade e do seu tempo. Outra vez...
Mas parece-me quase sempre que o que lhes falta são "ideais". Quanto a mim, falta-lhes "colar" uma "ideologia", um "projecto" ou uma "utopia", à sua infindável energia contestatária. Falta-lhes colar um significado ao seu Tag. Aliás, o desprezo - quase sempre inconsciente - pela participação na res publica é por demais evidente na rapaziada. E é isso que me deixa mais apreensivo.
Eu, quando era um rapaz novo, julgava-me parte de um processo irreversível de construção de um mundo mais humanizado e justo. E, para dizer a verdade, ainda me penso assim.

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A Al Jazeera chamava-lhe um figo

Pergunto: porque é que a Joana, indefectível defensora da opressão das mulheres árabes, não emigra para Teerão e, aí, se passeia em mini-saia para experimentar os ares da “liberdade” árabe em contraste com a “opressão” europeia. Vá até lá Joana, deixe-se de teorias; deixe-se de conversa fiada. Pratique!

Estão de parabéns

Miguel Castel-Branco, Mafalda Mendes, Ana Sebastião, Aldina Reis, Mário Soares, Jorge Saraiva, Rui Bernardes e Eduardo Silva. E a Universidade de Coimbra, a minha terrinha natal.

Sexta-feira


Jessica Alba.

Democracia sem regras democráticas

A manutenção do princípio do "centralismo democrático (que de democrático só tem o nome) no PCP, ao abrigo do qual o partido se sente no direito de defenestrar qualquer militante que desempenhe funções para que foi eleito pelo voto dos cidadãos, suscita um problema de fundo no sistema político português. Pode um partido com representação parlamentar, num regime democrático como o nosso, ter regras internas de funcionamento manifestamente antidemocráticas? A meu ver não. É nisto que me distancio das opiniões de bloguistas que muito prezo, como Coutinho Ribeiro, expressas a propósito da retirada parcial da confiança política do PCP à deputada Luísa Mesquita (retirada "parcial", note-se, que constitui um monumento de cinismo difícil de igualar). Limito-me a seguir a linha que está inscrita na Constituição da República, que aliás estabelece com toda a clareza que um deputado "representa a Nação" e não um qualquer directório de um partido político. "Estas coisas são demasiado sérias para que brinquemos com elas", como disse ontem Luísa Mesquita ao ser confrontada com a "ordem de despejo" decretada arbitrariamente pelo partido, que neste caso se assume como uma espécie de entidade patronal, capaz de impor despedimentos sem justa causa, à revelia dos procedimentos existentes em qualquer outro organismo da sociedade civil. Queremos uma democracia com partidos que funcionem sem regras democráticas - incluindo conselhos de jurisdição que sirvam de instâncias internas de apelação para os militantes que se sintam injustiçados? Não hesito em dizer que não. Mas o debate fica aberto desde já.

A escolha perfeita

É o que se chama a escolha perfeita: Badajoz, a cidade mais horrorosa da Península Ibérica, foi escolhida pelo Governo de Madrid para a XXII Cimeira Luso-Espanhola. Isto quando as relações entre os dois países, segundo os responsáveis de ambas as diplomacias, estão "excelentes". Imaginem só se não estivessem...

I'm foxy, indeed!

(Ou como, em inglês, é que se dá conta do nível dos elogios)

Manhoso (adj)
Crafty, shrewd, artful, foxy, cunning, whimsical.
Dic. Português-Inglês da Porto Editora

Troca de mimos

A propósito do belíssimo «para sempre» da f., , fica o convite para que leia este outro.

Tertúlia literária (102)


- Já sabe dos Bantry? Encontraram um corpo na biblioteca.
- Sim. Uma loura platinada. Cruzei-me há pouco com a velha metediça. More tea?

quinta-feira, novembro 23, 2006

Propriedade privada comunista

O mandato de autarca e deputado, para o PCP, é uma espécie de "propriedade privada" do partido. Estranha contradição, numa força política que costuma torcer o nariz à propriedade privada...

Há sempre alguém que diz não

Aos poucos, a máscara de Jerónimo de Sousa vai caindo: por detrás da aparente bonomia, surge o autocrata que o seu antecessor, Carlos Carvalhas, nunca soube ou nunca quis ser. Depois do saneamento de que foi vítima o presidente da Câmara de Setúbal, outrora considerado autarca modelo dos comunistas, desta vez o PCP deu ordem de despedimento, também sem pré-aviso, a Luísa Mesquita, uma das suas melhores deputadas. Tanto Carlos como Luísa têm um pequeno defeito aos olhos dos apparatchiks da Soeiro Pereira Gomes: gostam de pensar pela sua própria cabeça. O ex-autarca setubalense cometeu até a suprema heresia de assinar um comunicado de militantes que apelava ao debate interno. Luísa Mesquita não foi tão longe, mas estava há muito identificada com a corrente renovadora, que se recusa a comportar como se o muro de Berlim ainda existisse e o "centralismo democrático" definido por Lenine fosse o último grito da moda nos figurinos partidários. Perante a ordem de despejo agora recebida no Parlamento, teve a dignidade de recusar, garantindo que permanecerá em São Bento: quem a elegeu foram os portugueses e não os burocratas sem rosto que a querem ver pelas costas. Nisto, esteve melhor do que Carlos de Sousa, que obedeceu à guia de marcha partidária, renegando o mandato directo que recebeu dos eleitores de Setúbal. Fez mal.
Luísa Mesquita teve uma atitude diferente. Fez bem. Felizmente - até no PCP - há sempre alguém que diz não.

Não digam que não avisei


• Moita, Forum Figueiredo a 1 de Dezembro
• St. Maria da Feira, Europarque 2 de Dezembro
• Portalegre, Centro de Artes e Espectáculos a 3 de Dezembro
• Coimbra, Teatro Gil Vicente a 6 de Dezembro
• Alcobaça, Cine Teatro a 7 de Dezembro
• Torres Novas, Teatro Virgínia, a 9 de Dezembro
• Lisboa, Teatro São Luiz a 10 de Dezembro

Da manha

As pessoas que me conhecem sabem que tenho muitos defeitos. Gosto, por exemplo, de dizer aquilo que penso, o que verdadeiramente penso, defeito dos mais temíveis neste país. Mas eis que surge uma estreia. Alguém me chamou manhoso, ainda por cima uma pessoa que não conheço de lado nenhum. Pois bem, gostava de saber: manhoso em que sentido?
É pena desta vez o escriba ter falhado a regra de ouro dos insultos: para ferir alguém, só com a verdade!

Vote blue turn what?

Anda tudo baralhado. Estamos no fim de Novembro, o Verão de São Martinho já lá vai e continuamos a andar todos em mangas de camisa - apesar das tempestades que se avizinham. Algo se passa, é preciso os governos começarem a pensar em estratégias eficazes para proteger o meio ambiente. A Comissão Europeia, por exemplo, tem de ter uma palavra a dizer, um plano comunitário.
Ontem estive à conversa com um influente cidadão britânico, que me dizia que o Reino Unido ia investir milhões na protecção da natureza e que David Cameron não está sozinho no seu discurso vote blue turn green. Da esquerda à direita toda a gente já percebeu que é preciso fazer qualquer coisa. Impôr regras às empresas poluentes, combater os gases que provocam o efeito de estufa, optar por meios de transporte menos agressivos em termos ambientais. Por cá, a preocupação com a natureza ainda é de esquerda. O Partido Os Verdes (PEV) é o espelho disso. Nunca foram sozinhos a votos, são uma extensão do PCP e são verdes por fora, mas vermelhos por dentro.
O ambiente não tem ideologia. Al Gore faz o que pode nos EUA (ainda não vi o tal documentário, mas está na minha agenda fazê-lo) e é de centro-esquerda; Cameron, a esperança dos conservadores ingleses para tentarem que ao New Labour sucedam os New Tories, inscreveu o ambiente na agenda político-mediática e não larga o osso. Para ele, educação, saúde (defende o Sistema Nacional de Saúde com unhas e dentes) e ambiente são os pilares básicos do seu programa. Por cá está tudo na mesma. Para além de Carlos Pimenta, hoje em dia poucos pensam o assunto com pés e cabeça. Aliás, desde que o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles se aventurou naquele tal de Partido da Terra, que nunca mais se pensou o ambiente numa perspectiva política séria e não vinculada a ideologias sectárias e ultrapassadas.

Volte sempre

De 1986 (data do memorável concerto no Dramático de Cascais) para cá fui a vários espectáculos do Lloyd Cole, com ou sem Commotions, dentro ou fora de Lisboa, mas não fui ao da Aula Magna, anteontem. Nem irei ao do Porto, hoje - deixo isso para outros oldfashioned e para os newcomers. Há uns três ou quatro anos estive mesmo à conversa com ele, algures em Lisboa, e confesso que, entretanto, a vida deu tantas voltas que perdi a conta às vezes que ele voltou, às digressões pelo Interior, pelo Norte e aos concertos na Baixa da Banheira (que ideia foi essa?). Apesar disso, sempre que o oiço (como aos saudosos The The) dá-me uma certa nostalgia. Acho que vou ouvir o novo CD para saber do que trata.

Entrevista importante

A entrevista de Joschka Fischer ao Público, sobretudo a parte relativa à Europa, dá pistas sobre o que vai acontecer na UE e é um texto de leitura imprescindível.
Para o antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, a adesão da Turquia à UE seria um “exemplo fundamental do nosso poder de transformação”, o que me parece uma forma muito elegante de colocar o problema. A adesão à UE muda os países, modificou Portugal. Na mesma entrevista a Teresa de Sousa, Fischer diz claramente quais foram as promessas feitas aos turcos e sublinha que há dois lados que não estão a cumprir o que foi acordado. Chipre está a impedir que os europeus façam aquilo que prometeram (o fim das sanções a Chipre norte e a aprovação de ajuda financeira). Ainda não tinha lido um ex-responsável a dizer isto com tal clareza.
Fischer também critica os actuais dirigentes, sugerindo que existe uma crise de liderança na Europa e falta de comunicação. Ou seja, os políticos nacionais continuam pouco interessados em explicar aos europeus a importância de alguns assuntos cruciais. O antigo ministro alemão não o diz com estas palavras, mas a questão turca é um exemplo do défice de informação.
Joschka Fischer afirma ainda, com todas as letras, que será necessário aprovar a primeira parte da Constituição Europeia. Salvar a parte sobre instituições e competências da UE será uma tarefa crucial. A UE terá MNE, Presidente do Conselho, Comissão mais pequena e eficaz, numerosas votações por maioria qualificada, Parlamento Europeu mais poderoso.

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A ler

1. "Do semipresidencialismo português" por Luciano Amaral.
2. "O espírito reformista do Governo", por Paulo Gorjão.
3. "Desde que eu esteja bem", por Pedro Arroja.
4. "Reforma da Segurança Social I e II: O debate político que se segue; Distribuição dos ovos por diferentes cestas", por Margarida Corrêa de Aguiar.
5. "Maquiavel em democracia", por Pedro Soares Lourenço.
6. "Evidências", por Rui Costa Pinto.

Gostei de ler

1. A espiral. De Paulo Gorjão, na Bloguítica.
2. Corrida mais louca do mundo. De Carlos Furtado, no Nortadas.
3. Completamente out. De António Oliveira, na Estrada Poeirenta.
4. Onde é que você estava em 1990? De A. Teixeira, no Herdeiro de Aécio.
5. Que falta faz o Pinheiro de Azevedo. De Sérgio de Almeida Correia, n' O Bacteriófago.
6. Da competência. De Henrique Fialho, na Insónia.
7. Clube de Jornalistas. De Martim Silva, no Mau Tempo no Canil.
8. Robert Altman 1925-2006. De Pedro Mexia, no Estado Civil.
9. Um filme com história dentro. De Miguel Cardina, no Passado/Presente.

Casa Fernando Pessoa, hoje

A sessão de Novembro dos Livros em Desassossego vai debater o papel do Estado na cultura. Participam na discussão a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, o cineasta José Fonseca e Costa, que tem em sala o filme Viúva Rica Solteira Não Fica, e o coreógrafo Rui Horta, responsável pelo projecto Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo. O painel é completado pela presença da editora Zita Seabra (Alêtheia), que vai falar de três livros recentes que não editou mas gostaria de ter editado, e do escritor Urbano Tavares Rodrigues, que apresentará o seu novo romance, Ao Contrário das Ondas (D. Quixote).
(...) Com início às 21h30 e a moderação de Carlos Vaz Marques. A entrada é livre.

Tertúlia literária (101)

- Ando a ler o Equador.
- Eu também. Estás a plagiar-me.

Sensibilidade e bom senso

A entrevista de Cavaco Silva à SIC provocou efeitos tremendos no interior do PSD e também noutros sectores da oposição. Deixou desgostosos muitos daqueles que nele votaram para Presidente da República nas eleições de Janeiro deste ano. Em relação ao PSD, o problema maior é que depois da entrevista nada será como dantes. Se uns tantos barões e ajudantes de campo andavam entretidos a discutir pessoas, nomes, caras, alturas e feitios, a partir de agora terão que fazer muito mais. Porque ficaram confrontados com eles próprios, com a exiguidade da sua estratégia, com a falta de soluções e propostas.
O PSD, depois do que disse Cavaco Silva sobre a cooperação estratégica com o Governo, e com o grau de compromisso que o PR revelou querer ter nesta fase com o primeiro-ministro, tem que fazer mais. Terá que ser mais profundo, enérgico, constante e consequente. Terá que, no fundo, reaprender a fazer oposição. E esse será ou não o tirocínio de Marques Mendes.
Quanto aos que se mostram muito deprimidos com a actuação do Presidente e que reclamam ser o seu "eleitorado", esses terão que esperar. Afinal, Cavaco não está a fazer hoje nada a mais ou a menos do que disse que iria fazer em plena campanha eleitoral. A seu tempo, o PR irá dar sinais importantes ao seu eleitorado natural. Hoje, por exemplo, ficámos a saber que Abel Mateus foi chamado algumas vezes a Belém e que lhe foi pedida celeridade no parecer em relação às OPAs (Sonae sobre a PT e, imagino que também, do BCP sobre o BPI). É a magistratura de influência a funcionar.
Aqui chegados, vamos à parte escondida da entrevista. É que para mim, muito mais de que obrigar a um reposicionamento do PSD, a entrevista representa um perigo real para José Sócrates. E isso ainda ninguém quis perceber. Por essa razão Sócrates não falou e não irá falar sobre o que disse Cavaco a Maria João Avillez. Mesmo ontem, perante os deputados do PS na primeira reunião pós-congresso, Sócrates foi cauteloso. E prudente. Disse apenas que sabia que alguns comentadores e políticos estavam a reconhecer que o Governo é "reformista". Deixou o PR de fora.
Pudera. Sócrates sabe, melhor do que ninguém, que a cooperação estratégica e aquilo que muitos dizem ser uma "colagem do discurso" do PR ao do PM representa uma responsabilidade. Um caução de confiança. Porque, caso as reformas não se concretizem até 2009, ou perante um deslize evidente, Sócrates vai ter a infelicidade de ter que reconhecer que, mesmo com o suporte presidencial que outros governos não tiveram, ele não foi capaz. E uma coisa será também evidente. A um vacilar do Governo ou do seu primeiro-ministro, Cavaco Silva não irá mandar umas "bocas" ou dizer que há mais vida para além das reformas, irá actuar.

A vida dele dava muitos filmes

A propósito do excelente post de A. Teixeira no Herdeiro de Aécio sobre a queda de Mussolini, aqui fica a nem por isso bela face do homem que dizem ter sido «o comando preferido de Hitler» e que liderou a operação de resgate do ditador italiano.
Mais tarde, seria também o responsável pelo caos criado aos norte-americanos na Batalha das Ardenas e, mais tarde ainda, pela defesa de Berlim. Depois da guerra, refugiou-se em Espanha. Ei-lo, sinistra figura mas um génio militar como poucos, Otto Skorzeny.

O fenómeno

Todos os dias, há notícias de mais um encerramento de fábrica em Portugal, com centenas de pessoas a perderem os respectivos empregos. Só hoje, na rádio matinal, ouvi duas notícias destas. Ora, a taxa de desemprego do País não aumenta.
A economia cresce de forma anémica e ainda me lembro (no tempo em que era repórter de assuntos de economia) de ouvir um Ministro das Finanças dizer que o desemprego só começava a diminuir seis meses depois do ritmo de crescimento ser de 3 a 3,5% do PIB (ou seja, o triplo do actual).
Talvez tenha ouvido mal ou a economia portuguesa se tenha tornado entretanto num paradigma da levitação magnética, mas o facto é que todos os dias fecha uma fábrica em Portugal. E a taxa de desemprego ali, teimosa, sem se mover...
Alguma alminha blogosférica quer explicar este fenómeno esotérico?

Hoje, as divas são outras

Que os anonymous sirvam para alguma coisa

Já agora. E me informem sobre algo que a entrevista de uma página a Vítor Melícias no Público de hoje omite: Se Melícias vai deixar a presidência da União das Misericórdias e há uma lista única candidata às eleições, quem é que o vai substituir? Obrigado pela vossa imerecida atenção, na resposta que acredito célere e bem informada. Um grande bem hajam.

Uma pergunta ao Pedro

Caro Pedro, desculpa lá qualquer coisinha mas acabei de ler este teu artigo e não percebi: Se a desculpa de D. Duarte para não assinar dedicatórias foi «Hoje é o dia do aniversário da minha mulher. Não posso sacrificar o convívio familiar», por que razão marcou o lançamento para a mesma data? E se marcou o lançamento propositadamente para coincidir com o aniversário da esposa, por que é que se escapuliu às rubricazinhas? Saberás melhor do que eu mas, cá para mim, esta é uma estratégia para a valorização dos seus autógrafos. Leiloeiros e alfarrabistas da nossa praça, atentai!

Sign in junto ao terraço


Quando faço blogger.com surgem dois blogs:Num deles estou sozinha: ligo a música no formatting, encosto-me ao template, uso o comando nos settings e tenho os drafts só para mim.
Estar no outro blog é como estar numa sala cheia de gente, sempre a entrar e a sair mas sem haver barulho e com os drafts de lugares marcados.
Vejo o FAL à volta de jornais antigos sobre a história parlamentar e mais ao fundo, o Duarte lê obras ilustradas sobre iguarias do sec. XVIII enquanto vai folheando livros de oceanografia de D.Carlos. O Luis está concentrado na cartografia europeia do pós-guerra e vai admirando com enlevo ilustrações de etnologia africana. Lá num canto, o João Távora lê atentamente o Armorial Lusitano enquanto admira uma obra volumosa sobre o património artístico nacional. O Pedro Correia pacientemente vai passando microfilmes de periódicos do século passado enquanto aguarda pelas enciclopédias sobre cinema. O João Villalobos arruma as obras sobre a história da imprensa, folheia revistas sobre publicidade e, apesar da hora, ainda dá uma vista de olhos a obras sobre literatura de viagens.
Há alturas em que entrar no blogger é como estar na biblioteca.
(Post dedicado a todos os outros, que não conheço: Isabel Teixeira da Mota , Ines Bastos, Nuno Sá Lourenço, Marta C, Rodrigo, José Carlos Carvalho e Leonardo Negrão.)

quarta-feira, novembro 22, 2006

Para a colecção de cromos de Pacheco Pereira

Retrato do trabalho nos Estados Unidos da América em 1936.

Na morte de Robert Altman

Morreu Robert Altman, com uns respeitáveis 81 anos. Há muito um dos meus realizadores favoritos, manteve-se activo até ao fim. Ainda há poucos dias vi o seu último filme - Os Bastidores da Rádio, singular celebração do cinema como arte e joie de vivre. Uma película de pequeno orçamento, quase familiar, mas que nos proporciona momentos de inexcedível prazer cinematográfico, neste caso com um punhado de interpretações assombrosas, incluindo a de Meryl Streep num dos papéis mais memoráveis da sua carreira.
Galardoado com a Palma de Ouro em Cannes (por M.A.S.H., em 1970), Altman não cessou de ser um dos artífices mais originais do cinema americano, atravessando as décadas de 70, 80 e 90 sem perder o imenso talento criativo que o notabilizou. E já no século XXI proporcionou-nos uma das melhores longas-metragens dos últimos anos - Gosford Park, espécie de retrato da "luta de classes" na Grã-Bretanha dos anos 30, filmado com imenso sentido de humor e um requinte que este cineasta nunca dispensava nem nas fitas que considerava meros "divertimentos". Era também visível a forma como valorizava o trabalho dos actores, o que levava qualquer intérprete norte-americano a querer entrar nos seus filmes, às vezes a troco de quantias irrisórias.
Algumas das obras dele menos cotadas encontram-se entre as que prefiro. Obras como A Noite Fez-se para Amar (1971), Todos Somos Ladrões (1974), Um Casamento (1978) ou Volta, Jimmy Dean, Volta para Nós (1983) - em que demolia, um a um, sucessivos mitos americanos, com um notável poder corrosivo, sem no entanto dispensar a cada tema um certo olhar de inocência e até de ternura que lhe ficará para sempre associado como imagem de marca. Mas o filme de que mais gosto é O Jogador (1992). Com uma espantosa criação de Tim Robbins e uma longa cena de abertura, sem cortes, que roça a perfeição.
Outra obra dele que me deslumbrou foi Três Mulheres (1977), com Sissy Spacek e Shelley Duvall. Altman valorizava como poucos o trabalho das actrizes, tão malbaratado na actual indústria cinematográfica dos States, que reduz as mulheres a todo o género de estereótipos. Duas das suas actrizes preferidas, Meryl Streep e Lily Tomlin, entregaram-lhe há meses o Óscar honorário com que Hollywood enfim o distinguiu para aliviar uma certa má consciência por nunca lhe ter atribuído um galardão anteriormente pelo seu mérito como realizador.
A distinção tardou, mas chegou ainda a tempo de o consagrar em vida. Robert Altman merecia isso e muito mais. Foi o último dos cineastas clássicos e o primeiro dos modernos americanos. Uma voz verdadeiramente inimitável.

Na imagem: fotograma de Três Mulheres (1977), com Sissy Spacek e Shelley Duvall

De acordo

Só posso concordar com tudo quanto aqui diz o Pedro Rolo Duarte.

Gostei de ler

1. O PERB. De João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
2. Só para cristãos. De Hugo Chelo, n' O Cachimbo de Magritte.
3. Presos ao crédito. De José Raposo, no Dolo Eventual.
4. "Keres" escrever bem no meu banco? De José Medeiros Ferreira, no Bicho Carpinteiro.
5. Duas notas sobre liberalismo, capitalismo & catolicismo. De António Figueira, no Cinco Dias.
6. Escolhas. De Rui Pena Pires, no Canhoto.
7. Inventar novas liberdades e o discurso das pequenas coisas. De Pedro Soares Lourenço, no Arcádia.
8. O véu! De Tomás Vasques, no Hoje Há Conquilhas.
9. Da cidade ideal. De Rui Bebiano, n' A Terceira Noite.
10. "Orgasmo global sincronizado". De Fernando Martins, n' O Amigo do Povo.
11. Os Óscares da blogosfera. De António Godinho Gil, na Boca de Incêndio.
12. Dr. House. De Sérgio Lavos, no Auto-Retrato.

O quinto poder

Decorre na chamada blogosfera uma iniciativa curiosa, a eleição anual dos melhores blogues, ideia da geração rasca, com boa adesão. Um dos nossos, a Isabel, está aliás bem lançada numa das categorias e estamos aqui a torcer para que ela ganhe...
Serve a introdução para um post sobre o mundo dos blogues, pois considero reveladora a imagem que, em conjunto, temos de nós próprios. Veja-se, por exemplo, a divisão em seis categorias: individual feminino, individual masculino, colectivo, temático, melhor blogue de 2006, melhor blogger de 2006.
Esta divisão permite separar o colectivo do individual e o masculino do feminino. Aparentemente, os autores também consideram haver blogues sem tema e outros com tema.
Garanto que a minha crítica não tem nada a ver com o facto de não ter sido nomeado (bem, enfim, tem um bocadinho), mas atrevo-me mesmo assim a dizer que a blogosfera já não é isto. Não há grande diferença entre blogues masculinos e femininos e o colectivo vs individual também não faz sentido. Acho que todos os blogues são temáticos, uns mais obsessivamente do que outros. A forma é diferente: há revistas, jornais de parede, diários.
Mas é a divisão da geração rasca, que tem todo o direito de fazer como quiser. E aqui bate o ponto!
Se lermos Miniscente (onde é visível o que os bloggers pensam de si próprios) constatamos que este novo meio se vê como uma espécie de extensão dos media tradicionais. Muitos bloggers estão intimamente convencidos de que fazem jornalismo. Acho a opinião errada. Alguns fazem política, mas não conheço nenhum que faça jornalismo, porque esta profissão contém limitações técnicas que impedem a frase “tem todo o direito de fazer como quiser”. É, por exemplo, necessário ouvir os dois lados de qualquer conflito...
Mais uma vez correndo o risco de ser corrido à bordoada, parece-me que a blogosfera tende a ocupar o espaço da crítica, da crónica e da opinião que outrora pertenceu aos jornais. O virtual é o meio ideal para estas formas, mas também para géneros literários, o conto por exemplo, mas sobretudo a poesia, pois os poetas não conseguem publicar em livro e procuram outras formas de expressão. (No romance, já tenho as minhas dúvidas, mas talvez seja possível).
A blogosfera possui complexidade maior do que aquela que possuía quando comecei, há um ano. Existe, sem dúvida, muito ego (quem não gostaria de ser nomeado para a lista de geração rasca?), mas há algo de novo que mudou os media tradicionais, criando um mundo virtual onde tudo se discute e onde há poucas regras. Temos criatividade, ideias e opiniões, no meio do ruído e da espuma. Apesar das tribos, dos ataques anónimos, este povo sem lugar é um grande bem para a cultura e identidade, para a liberdade de expressão e, em consequência, para a nossa frágil democracia.
Ilustração: Pintura de Caspar David Friedrich

Play Time


ou este post dava um filme indiano:

Aqui fica uma sugestão para espíritos criativos e empreendedores. Sem subsídios nem dependências:
Realize um filme indiano ou
Realize os seus sonhos num jogo de futebol.

Este filme, por exemplo, já foi agraciado com a Palma de Cortiça do VII Encontro de Cinema de Lillairet-Sur-Mer. Desde já, os meus parabéns ao promissor realizador.
Divirta-se!